A tabela CIGUATERA

25000 pessoas são envenenadas anualmente pelo consumo de alimentos marinhos contaminados com ciguatera

Ciguatera é uma forma de ictio-intoxicação causada pelo consumo de peixes de coral contaminados pela ciguatoxina (uma classe de toxinas solúvel nos lípidos). Estimativas actuais sugerem uma intoxicação anual de cerca de 25000 pessoas por peixes contaminados. As toxinas responsáveis pela ciguatera são segregadas pelo dinoflagelado Gambierdiscus toxicus, que é um epífito de macroalgas calcárias ou de outros substratos dos recifes de coral. G. toxicus está largamente distribuído pelos recifes de coral e lagoas, mas prolifera em águas pouco profundas (3 -15m) longe de influências terrestres. A maior parte das áreas onde a ciguatera ocorre são caracterizadas por águas de salinidade oceânica. Os peixes de coral herbívoros consomem algas, ingerindo G. toxicus e concentram as ciguatoxinas no tubo digestivo e no tecido muscular. Os peixes carnívoros do recife, consomem os herbívoros, tornando-se também tóxicos e desta forma, todos os elementos da cadeia trófica tornam-se tóxicos.

As ciguatoxinas não são destruídas quando se cozinham os peixes e não existem testes de rotina para identificar peixes contaminados, ou para estabelecer épocas de ocorrência desta toxina nos recifes. Os envenenamentos pela ciguatera são caracterizados por fortes sintomas gastro-intestinais e neurológicos. Os indivíduos intoxicados podem ter diarreia, vómitos, letargia, paralisias, percepção da temperatura de forma reversa, comichões, picadas e dores musculares. Alguns destes sintomas, como comichões e dores musculares, podem persistir durante vários meses. A recorrência dos sintomas neurológicos pode ser desencadeada pelo consumo de álcool ou de certos alimentos, tais como outros peixes, alimentos com sabor a peixe, manteiga de amendoim e carne, como frango e porco. Uma revisão dos aspectos clínicos, ecológicos e epidemiológicos da ciguatera foi feita por Lewis & Holmes (1993).

A ciguatera raramente é fatal…

A ciguatera raramente é fatal, os indígenas conhecem os locais, e quais os peixes que podem estar contaminados. No entanto, muito pouca desta informação tem sido documentada a não ser de uma forma acidental ou episódica. A maior parte das informações sobre ciguatera no Pacífico, foi conhecida através de registos de epidemias nos hospitais, que simplesmente dão o número de casos de intoxicação alimentar por peixe tratados num determinado ano. Documentação precisa sobre casos de ciguatera no passado, estão confinados essencialmente à Polinésia Francesa, Austrália e Havai. Em 1990, a Comissão do Pacífico Sul, começou a recolher casos detalhados de envenenamentos por ciguatera nas ilhas do Pacífico, e resumiu esses dados numa base de dados (Dalzell 1992, 1994). O registo de casos históricos tem sido desigual, com muitos casos de Tuvalu e da Nova Caledónia, mas apenas alguns, ou mesmo nenhuns de locais como as Ilhas Marshall e Kiribati, que são conhecidas por terem problemas crónicos com surtos de ciguatera.

Campos      Os dados são baseados num questionário

Os vários campos aqui contidos fazem parte de um questionário realizado a pessoas que tenham ficado doentes após trem comido peixe ou outro organismo marinho. Apesar de ter sido realizado para envenenamentos por ciguatera, pode servir para registar envenenamentos por outros organismos marinhos, tais como crustáceos e moluscos.

Os campos País e Localidade identificam o local onde se deu o envenenamento;

Data indica quando foi registada a ocorrência;

Os campos seguintes: Peixe, Caranguejo, Lagostas, Outros crustáceos, Gastrópodes, Bivalves e Outros, identificam o organismo ingerido que causou o envenenamento;

O tipo de local onde o organismo foi capturado é especificado nos campos: Praia, Lagoa, Recife de coral, Rio, Mangal, Outros recifes e Mar aberto;

O método de preservação do peixe ou outro organismo é especificado nos campos: Fresco sem gelo, Fresco com gelo, Congelado, Salgado, Seco, Fumado ou Em pickles;

A parte do organismo consumida é registada nos campos: Cabeça, Carne, Pele, Fígado, Ovas e Outros órgãos;

Três campos registam o método de preparação do organismo: Não cozinhado, Marinado ou Cozinhado;

O número de pessoas, para além da inquirida, que comeram da mesma refeição está registado no campo Quantos mais comeram esta refeição;

O campo Quantos mais ficaram doentes e Quantos mais deram entrada no hospital, dá detalhes sobre a extensão do envenenamento;

O peixe ou organismo causador do envenenamento pode ser registado na linguagem local (Nome local do alimento marinho), assim como o nome vulgar em inglês (Nome em inglês do alimento) ou pelo nome científico (Nome científico do alimento);

O local onde o peixe foi apanhado (Nome do local de captura) é especificado;

Os campos Data da refeição, Tempo da refeição, Data da doença e Tempo de doença, fornecem informação do tempo de incubação entre o consumo do peixe e os primeiros sintomas de ciguatera.

Um total de 18 sintomas foram incluídos nos seguintes campos: Ardor/dor quando toca em água fria, Borbulhas/sensação de paralisia, Desconforto a urinar, Dificuldade em respirar, Dificuldade em andar, Dificuldade em falar, Irritação nos olhos, Formigueiro ou picadas quando em contacto com água fria, Sabor estranho na boca, Comichões/vermelhidão, Salivação excessiva, Suor excessivo, Diarreia, Vómitos, Febre/calafrios, Dores de cabeça, Dores nas articulações, Cãibras musculares;

Cinco campos relacionados com informação médica são incluídos se o questionário for completado por um médico em nome da vítima, nomeadamente: Pulso, Tensão arterial (medições sistólicas e diastólicas), Dilatação da pupila e Morte;

Por fim, é dado um campo (Comentários) para quem queira juntar informação que possa ser pertinente para o historial do seu caso.

Estado
    
    
    
    
    
    
    
    
A tabela CIGUATERA também refere outras espécies de alimento marinho

Mais de 600 registos foram recolhidos desde 1990 de onze territórios ou países nas ilhas do Pacífico. Como já se disse, a amostragem não foi muito aleatória, com mais de 50% dos casos provenientes de Tuvalu, e destes, a maior parte da ilha de Niutao (veja os gráficos acessíveis a partir do Menú Gráficos). Parte do problema da obtenção de registos da doença, é a falta de clareza na responsabilização por parte da administração da saúde e das pescas das ilhas do Pacífico Sul dos blooms de ciguatera. Para mais a ciguatera não é vista como prioritária nos problemas de saúde na maior parte dos locais, e apenas preocupa a administração das pescas se causar problemas na exportação de peixes para outros países.

Quando possível, os nomes locais das espécies foram traduzidos para o seu equivalente científico, embora nalguns casos, o nome local se refira apenas ao género ou família do peixe. Esta é uma das razões pela qual a tabela CIGUATERA não está só relacionada com a tabela ESPÉCIES, mas também com as tabelas FAMÍLIA e PAÍSES. A Comissão do Pacífico Sul actualizará esta base de dados, conforme se forem acumulando novos casos das Ilhas do Pacífico. Para além disso, a equipa da FishBase convida colegas que trabalhem na região das Caraíbas, a contribuírem com registos, que permitam a expansão desta base de dados, e eventualmente, cobrir todas as áreas do mundo onde a ciguatera ocorre.

Como chegar lá

Pode-se aceder à tabela CIGUATERA de diversas formas:

  1. Clicando no botão Importância na tabela ESPÉCIES e clicando duas vezes no campo Peixes perigosos, se este indica registos de envenenamento por ciguatera;

  2. Clicando no botão Biologia na tabela ESPÉCIES, no botão Peixe como alimento na tabela BIOLOGIA e no botão Ciguatera na janela PEIXE COMO ALIMENTO;

  3. Clicando no botão Intervalo na tabela ESPÉCIES, no botão País na janela STOCKS. Se clicar duas vezes sobre uma das linhas na tabela LISTA DE PAÍSES ONDE A ESPÉCIE OCCORE poderá obter informação sobre o país designado. Pode também clicar no botão Informação Países na janela PAÍSES, e no botão Ciguatera na janela REFERÊNCIAS PAÍSES. Note-se que esta lista inclui grupos que não peixes, tal como as holotúrias.

  4. Clicando no botão Família,/b> na tabela ESPÉCIES e no botão Ciguatera na tabela FAMÍLIAS.

Clicando sobre o botão na tabela CIGUATERA obtém a distribuição de alguns casos já detectados. Clicando sobre um dos pontos amarelos poderá obter informação relativa a um desses casos.

Referências

Anon. 1997. Ciguatera for health care professionals. Sea Grant in the Caribbean. Jan.-March, p.5.

Brody, R.W. 1972. Fish poisoning in the Eastern Caribbean. Proc. Gulf Caribb. Fish. Inst. 24: 100-116.

Dalzell, P. 1992. Ciguatera fish poisoning and fisheries development in the South Pacific. Bull. Soc. Pathol. Exot. 85 (5): 435-444.

Dalzell, P. 1993. Management of ciguatera fish poisoning in the South Pacific. Mem. Queensland Mus. 34(3): 471-480.

Lewis, R.J. and M.J. Holmes. 1993. Origin and transfer of toxins involved in ciguatera. Comp. Biochem. Physiol. 160C(3): 615-628.

National Research Council (NRC). 1999. From monsoons to microbes: understanding the ocean’s role in human health. National Academy Press, Washington, D.C. 132 p.

Olsen, D.A., D.W. Nellis and R.S. Wood. 1984. Ciguatera in the Eastern Caribbean. Mar. Fish. Rev. 46(1): 13-18.

Sadovy, Y. 1999. Ciguatera – a continuing problem for Hong Kong’s consumers, live reef fish traders and high-value target species. SPC Live Reef Fish Info. Bull. No. 6. (December 1999):3-4.

Tosteson, T.R., D.L. Ballantine and H.D. Durst. 1988. Seasonal frequency of ciguatoxic barracuda in Southwest Puerto Rico. Toxicon. 26(9):795-801.

Paul Dalzell